Segundo Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica, podemos utilizar a analogia de que um setting terapêutico pode ser comparado ao antigo processo alquímico, no qual se utilizava do fogo frente aos materiais nobres para separar aquilo que tem valor da sujeira que seria derretida pelo calor. Penso que é inerente ao ser humano saudável o poder seletivo para que se possa amenizar angústias e qualquer tipo de sofrimento ou sintomas. Vamos tentar analisar questões afetivas, econômicas e inter-relacionais para ampliar a consciência e, quem sabe, promover mais qualidade de vida.
A princípio, não poderia ser diferente iniciar com a reflexão sobre os afetos. Diferentemente de outras regiões, desde muito cedo, nós, enquanto Brasil, não aprendemos a classificar as emoções. Pelo contrário, em muitas circunstâncias acabamos oprimindo e reprimindo de maneira nociva, sem o mínimo de atenção. Tristeza e desânimo, raiva ou revolta são algumas confusões que, quando misturamos, acabamos nos perdendo e tornando a situação ainda mais difícil. Os afetos não podem mais ser banalizados. Ao invés disso, devem ser estudados, discutidos e assimilados de maneira mais coerente e responsável.
Economia: quando pensamos na questão financeira, muitas vezes fazemos uma bagunça, podendo perder a paz. Segundo alguns teóricos analíticos, o dinheiro representa harmonia, pois pode demonstrar diversas formas de afeto, como segurança e gentileza, entre outros. Como já diria nosso querido médico psiquiátrico Augusto Cury, “O dinheiro não traz a paz, mas a falta dele tira a paz.” Muitas vezes acabamos assumindo despesas alheias com as melhores intenções. Entretanto, o senso comum aponta que de boas intenções o inferno está cheio. Será que realmente essa é uma forma de ajudar ou prejudicar?
Quando pensamos nas relações, a mistura também pode gerar caos em diferentes ambientes. Talvez comportamentos de terceirizar responsabilidades possam justificar trocas de papéis e funções que atrapalham a dinâmica, seja qual for a esfera: conjugal, parental, fraternal, etc. Filha assumindo o papel de mãe, pai na função de amigo, namorada com autoridade ou omissão em uma relação totalitária contribuem significativamente para um contexto gerador de muitas formas violentas que acarretam dor e sofrimento, inclusive mortes que podem ser simbólicas ou não. Mas, independente da situação, podem gerar luto e traumas.
Ao perceber então que, seja qual for a área de nossa vida, torna-se imprescindível separar para organizar e internalizar, cabe a nós evitar a conexão com o arquétipo do herói, que, de maneira fantasiosa, nos coloca em posição de combate e altruísmo absoluto, enfatizando assim nossas vulnerabilidades e tornando-nos seres humanos cada vez mais frágeis e passíveis de manipulação, de maneira consciente ou inconsciente. Assumir a falta de autoconhecimento, manter a serenidade para que se possa compreender de maneira fidedigna e não acabar trocando os pés pelas mãos, replicando o senso comum, torna-se um elemento necessário para o famoso e religioso “separar o joio do trigo”, que inevitavelmente ofertará maior paz interior. Portanto, sente e reflita.
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